“Aleatória” talvez não seja o termo mais exato para caracterizar a rajada de notas que esse jovem americano costuma exibir em suas performances. Mas que às vezes essas rajadas soam dessa forma, isto sim. Meu irmão soltou um comentário pertinente ao assistir à apresentação de Aaron Spears no DVD do Modern Drum Festival 2006, comentário que sintetiza um pouco a peculiaridade de Aaron: “Esse cara parece um louco tocando”, disse.
Mas de louco o cara não tem absolutamente nada, a não ser que passemos agora a chamar de loucura a inventividade, a criatividade e o descontentamento com a mesmice. Aaron é o nome que escolhi dentre uma série de outros grandes instrumentistas surgidos nos E.U.A e com perfis timbrísticos e técnicos semelhantes (poderia citar também Ronald Bruner Jr. e Ted Campbell).
Sua performance soa ao mesmo tempo tecnicamente elevada e artisticamemte relevante. Suas rajadas de notas poluem, mas são administradas com comedimento ao longo do som. Dessa forma parecem ilhas de rudimentos, pontos tensivos onde o músico aproveita para descarregar energias acumuladas ao longo da condução do groove.
No mais, seu groove (como o da maioria desses “novos” grandes bateristas) soa redondo, bem estruturado e contido. O principal diferencial de Aaron é justamente o comedimento. Seus solos não são tão intensos em número de notas como o dos outros que citei acima. Além disso, ele apresenta uma predileção por viradas sincopadas, e é esse elemento que dá a impressão de aleatoriedade. Enfim, vejam.